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Palavras | A copa do mundo é de todos | Cristina Lebre

Copa do Mundo é uma invenção sensacional. É claro que tem política, e tem gente que ganha muuuuuuuuito dinheiro com futebol neste mundão de Deus. Mas a verdade é que, quando a bola começa a rolar, e a gente tem a oportunidade de acompanhar os melhores jogadores do planeta em campo, nada mais tem tanta importância. Um show realmente bonito de se ver, de se viver. E não é somente pelos jogos, pelas disputas, pelos países em campo. O que eu acho mais incrível é a união dos povos, as torcidas nos estádios e nas ruas de tantos países. Um planeta inteiro se reunindo, se emocionando, chorando, rindo, se abraçando, torcendo, vibrando. É quando o homem deixa brotar de sua essência um sentimento dos mais profundos, o amor por sua pátria através do esporte. As Olimpíadas são também emocionantes, mas a Copa do Mundo tem um carisma único. É o futebol rompendo barreiras, preconceitos, julgamentos, e promovendo a beleza e as cores das torcidas, todas sedentas por um único grito: goooooooooolllllllllllll!!!!!!!!!!!!!!!!

De uns anos pra cá tenho pensado muito em fazer Sociologia, e lido, e estudado sobre essa tão interessante ciência que investiga o ser humano. Se por um lado o homem é egoísta e faz tanto mal ao mundo e ao seu próximo, por outro a maioria, graças a Deus, é farta em graça e encanto. Seja como for, a complexidade e a riqueza da condição humana são inegavelmente fascinantes. E a Copa do Mundo desvenda essa amplitude de maneira estupenda. São necessários somente noventa minutos e 22 jogadores para se contemplar o esplendor dos povos. Das torcidas presentes aos estádios, suas fantasias e o multicolorido que formam, às multidões em praças, ruas e residências, todos estão, nessa hora, irmanados em uma só corrente: o desejo ardente pela vitória de suas seleções. É realmente um dos mais belos espetáculos da terra.

E o que não dizer das famílias reunidas, amigos que não se viam há tempos combinando de assistir juntos os jogos, as casas enfeitadas, as ruas coloridas, o pessoal fazendo fila na padaria antes das partidas, e as gargantas roucas de tanto gritar? E os abraços, a arruaça, os gritos quando sai um gol? Gente, que me desculpem os que não estão nem aí pra Copa, mas é bonito demais! É muito mais do que alienação ou ópio, é a essência humana tomando forma a cada minuto, a cada ataque, a cada defesa, a cada escanteio ou pênalti cobrados. São homens, mulheres e crianças em uma só direção, irmanados em um só sonho, qual seja, o de ser campeão do mundo! É momento de alegria incontrolável na vitória, de sofrimento intenso diante da derrota, de uma só paixão. É história que se conta pelos anos seguintes, que não se esquece, que se comemora e se relembra pro resto da vida.

Não dou a mínima pra futebol de clubes, nem ao menos sei que campeonato está acontecendo. Sou Flamengo de onda porque se o rubro-negro perde não estou nem aí. E como eu tem muita gente assim por este Brasil. Mas a Copa do Mundo é diferente. É o melhor do futebol formando uma aldeia global em volta do torneio. É gente se perdoando pra não ficar de fora daquela turma que combinou de assistir o jogo reunida, é quando uma massa de corações disparando, pulando, gritando, chorando e se abraçando deixa de ser mico para formar um imenso cordão de êxtase.

Pode ser que alguns dos meus leitores discordem e me critiquem. E pode ser também que outros entendam o que eu digo aqui, e corroborem meus pensamentos. Pra todos eu digo: o mundo é mais feliz durante a Copa, e viva o planeta, infestado dessa gente que é pra brilhar, não pra morrer de fome.

 

Cristina Lebre é autora dos livros “Marca D’Água” e “Olhos de Lince”, à venda nas livrarias Schöfer, em Icaraí, ou pelo e-mail lebre.cristina@gmail.com

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