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Palavras | Cristina Lebre | Graça: a felicidade de conhecê-la

Lendo, pela segunda vez, “O Evangelho Maltrapilho”, do americano Brennan Manning, encaro novamente a maravilhosa narrativa sobre a graça de Deus. Todos sabem que sou cristã, e poder discorrer aqui, pelo menos um pouco, sobre Deus e seu amor misterioso por nós é, por si só, também graça do Pai. São 222 páginas de argumentação a respeito de um amor gratuito e apaixonado, que não muda, não oscila, não perece e nem guarda ressentimento. A graça é derramada sobre nós todos os dias, a cada amanhecer, enquanto os pássaros anunciam o espetáculo do nascer do sol. A graça não depende de nossos esforços, não se esvai se pecamos, não se ufana nem se ensoberbece. É a mais maravilhosa notícia que um ser humano pode receber, ainda que esteja no fundo do poço ou no leito de morte.

A igreja continua hipócrita em muitos aspectos. Insiste em pré-conceitos e na medição de pecados. Algumas denominações permanecem bradando as condições para se conquistar a vida eterna. É nosso dever, enquanto cristãos que buscam a verdadeira comunhão com o Pai, lutar contra o farisaísmo da igreja. Precisamos chamar prostitutas e ladrões para sentar à mesa e falar de amor e perdão, como Jesus o fez. Manning lembra o quanto Jesus foi odiado, até ser morto, por uma sociedade que se escandalizava com seu hábito de comer e beber com meretrizes e publicanos, de enaltecer as crianças como os primeiros no reino dos céus, e de declarar que os pobres de espírito são os mais felizes. Os pobres de espírito, entenda-se, são os humildes, os que sabem que não são nada além de carne e osso, os que não se envaidecem. São poucos, infelizmente.

Paulo diz aos Efésios que “pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não por obras, para que ninguém se glorie” ( Ef 2:8). Esta é a chave da questão. Mas a igreja deixou esse versículo de lado durante séculos e até hoje muitas ainda cobram a salvação como se ela pudesse ser barganhada com Deus.

Deus vê os nossos erros sim, e não se agrada deles. Mas revela, todos os dias, sua capacidade para nós incompreensível de perdoar. Manning me leva às lágrimas com o seguinte parágrafo sobre o assombroso amor de Deus por nós: “Esse é o Deus do evangelho da graça. Um Deus que, por amor a nós, mandou o único Filho que jamais teve embalado em sua própria pele. Ele aprendeu a andar, tropeçou e caiu, chorou pedindo leite, transpirou sangue na noite, foi fustigado com um açoite e alvo de cusparadas, foi preso à cruz e morreu sussurrando perdão sobre todos nós.”

O amor incondicional de Deus, no entanto, não implica podermos pecar à vontade por toda a vida. Muito pelo contrário, ao nos depararmos com esse infinito amor, e nos rendermos a ele, mais e mais somos estimulados a uma vida de comunhão com o Pai e os frutos do Espírito. “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.” Romanos 12:21

O Evangelho da Graça deveria ser a manchete de primeira página em todos os jornais do mundo no início de cada manhã. Essa é a notícia mais bombástica e maravilhosa a toda a humanidade, sem acepção de pessoas. É preciso abreviar o tempo para que todo ser humano conheça esse amor e se renda a ele, renunciando ao poder do mal. Que nós, os que já tivemos o privilégio de senti-lo, espalhemos a boa nova por onde passarmos!

Cristina Lebre é autora dos livros Olhos de Lince e Marca d’Água, à venda na Livraria Schöfer, em Icaraí, ou diretamente por lebre.cristina@gmail.com

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