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Publicado em 16/09/2017

 

Cidadania • Professor Barragan

As defeituosas versões de Enéas Carneiro

Não é de hoje que figuras folclóricas e exóticas costumam habitar o mundo político brasileiro. Por sem dúvida, a mais emblemática foi a do Dr. Enéas Carneiro, cardiologista, integrante do Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona), que utilizava o número 56 em sua legenda. Dono do memorável jargão “Meu nome é Enéas!”, ele ganhou rápida expressão no cenário político com um misto de ideias conservadoras e inovadoras, fundadas em uma inteligência acima da média da maioria dos políticos a que estávamos submetidos.

Apresentando o discurso bem estruturado e concatenado, ofertou soluções até então ainda não ditas, como a exploração da bauxita e a produção de uma bomba atômica. O fenômeno eleitoral, provocado por Enéas Carneiro, o fez receber 360.561 votos na primeira eleição para a Presidência da República em 1989, e 4,6 milhões de votos em 1994, concorrendo para o mesmo cargo. Com mais tempo de televisão, ele conquistou mais eleitores com o viés cada vez mais estruturado de sua fala. Na continuação de sua meteórica jornada política, Enéas Carneiro alcançou a inédita marca de 1.573.112 votos para Deputado Federal, sendo superado, posteriormente, por Tiririca (outra figura exótica do mundo político brasileiro, mais dotado de menos seriedade que o cardiologista, que morreu vítima de câncer). O alcance daqueles recordes de votos para o cargo de Deputado Federal – primeiro por Enéas e, depois, por Tiririca - resultou na opção da maior parte do eleitorado em estabelecer um “voto de revolta” (o que melhor se faz quando se anula o voto) contra o sistema político vigente em cada época.

Alguns outros também tentaram seguir a linha de defesa e representação inaugurada pelo político do PRONA, mas de forma menos técnica e sábia. Uma das tentativas de “clone” de Enéas Carneiro foi a de Levy Fidelix, fundador do PRTB, que, no exagerado do conservadorismo, foi acusado de comentários homofóbicos proferidos durante o debate realizado em setembro 2014, chegando a responder a uma ação ajuizada contra ele com base naquele episódio. Figura também folclórica, mas com expressão bastante inferior a de Enéas Carneiro, Levy Fidelix recebeu 446.708 votos para a eleição presidencial de 2014, terminando em sétimo lugar na disputa.

Noutro giro, a versão mais próxima - mas ainda com alguns defeitos -, do fenômeno Enéas Carneiro, é a do Deputado Federal Jair Bolsonaro. Também rejeitado por movimentos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), como Levy Fidelix, Jair Bolsonaro se tornou conhecido no cenário político nacional por posições nacionalistas e conservadoras, com destacadas críticas ao comunismo e à esquerda, e em defesa da ditadura militar (estabelecida no Brasil entre os anos de 1964 a 1985). Por seus posicionamentos, Jair Bolsonaro desenvolve discursos que, sob a análise política, encontra espaço na linha extrema-direita. Entretanto, apesar de ser o Deputado Federal mais votado no Estado do Rio de Janeiro na última eleição (2014), não deve ser considerado um fenômeno político do porte de Enéas Carneiro.

É de bom grado perceber que, apesar de boa parte do discurso do político e cardiologista de sucesso ser empregado em intenção parecida com as das atuais palavras de Jair Bolsonaro, falta ao militar da reserva e deputado federal a sagacidade e sabedoria com que Enéas era capaz de conduzir o seu raciocínio e manter a sua inteligência emocional quando era submetido à pressão de um adversário político. Jair parece ser uma peça mais frágil de se enfrentar em um debate político do que era Enéas, o qual sempre representava certo temor para os debatedores em razão de seu vasto conhecimento.

Por concluir, alguns políticos de nossa história parecem interessados em usar linha similar de atuação de Enéas Carneiro - em razão de seu destacado sucesso como candidato – mas, com isso, acabam por criar figuras de políticos baseados em projetos conservadores, militaristas e moralistas (assumindo o risco de serem falsos moralistas) como caminho para uma sociedade que julgam ser melhor para se viver. Ideias como a do rompimento das relações com organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o excessivo aumento do efetivo das Forças Armadas, entre outros já sustentados em nossa história política, não se sustentara, nem tornaram seus interlocutores presidentes da nação.

Portanto, a seguir neste sentido, uma possível candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República poderá se revelar como uma defeituosa tentativa de ser um novo Enéas Carneiro, o que o impedirá de lograr o êxito esperado. Logo, a população espera cada vez mais autenticidade de seus candidatos e não uma nova formatação dos velhos políticos e de ideias que não são capazes de conduzir a nação em prol da liberdade, da igualdade e da fraternidade tão desejadas.

É hora de fazermos a nova política com novas ideias! E viva a cidadania!

Professor Barragan é advogado, contador, professor universitário, mestre em direito econômico e desenvolvimento e coordenador de projetos sociais. Facebook: Professor Barragan. Instagram e Periscope: @professorbarragan. Twitter: @profbarragan

 

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