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Publicado em 09/09/2017

 

Palavras • Cristina Lebre

Tarados, acabou pra vocês!

Não bastassem os inúmeros escândalos políticos com que somos obrigados a conviver todos os dias – aliás, graças a Deus, ao MPF e à PF pela divulgação de tudo, pois não saber seria pior – ainda temos que deglutir maníacos sexuais tentando escapar incólumes, em pleno século XXI, da justiça. Mas a mamata está acabando: o primeiro que caiu em desgraça na mídia já foi condenado a dois anos de cadeia, mesmo tendo sido solto da primeira vez em que seu nome viralizou na web.

Quando eu tinha 17 anos - algumas décadas atrás - sofri um assédio horrível no ônibus: um rapaz de uns 20 anos ejaculou nas minhas costas depois de se esfregar em mim algumas vezes. Ao ato seguiu-se a choradeira dele, pedindo-me perdão e dizendo que estava muito nervoso porque era o seu primeiro dia de trabalho no seu primeiro emprego. (Oi?).

Noves fora essa justificativa estapafúrdia, o choro dele e seu insistente pedido de perdão deixaram a mim , e ao resto das pessoas no ônibus , mais confusas ainda . Lembro -me que um senhor agarrou o tarado pelo braço e me perguntou se eu queria que ele enchesse o menino de cacete . Eu disse que não, completamente atônita, enquanto o garoto se soltava do coroa e empurrava todo mundo até sair do coletivo . Acho que ele desceu muito antes do que seria o seu ponto . As pessoas tentavam me consolar , mas a verdade é que ninguém queria encostar naquela moça toda suja de p..... nas costas . Resolvi também saltar, percorri o resto do caminho até minha casa a pé , e só debaixo do chuveiro , tentando separar os fios grudados de meu enorme cabelo, foi que consegui chorar .

Naquela época não havia celular, não se falava em direitos humanos nem existia a Lei Maria da Penha. Se a gente reclamasse era vista como maluca, pois ser assediada era considerado um elogio, sinal de que a gente era bonita. Infeliz era a feia que nunca tinha ouvido uma piada infame na rua.

Hoje muitos homens ainda acham isso. Pior: há mulheres que também pensam assim, haja vista uma senhora que comentou, no meu post no Facebook em que partilhava esse infortúnio, que a minha história era “banal”. É bem verdade que a leitora parecia não bater bem da bola. Enfim, há gente pra tudo nesta vida.

Porém, a grande maioria das mulheres, hoje, está se mobilizando. E com o apoio de uma parcela significativa dos homens, que boa nova! Não há mais espaço para o abuso sexual ou emocional, seja ele de que natureza for. Por isso gritem, meninas , brade, sociedade , pressionem por leis mais duras sobre todos aqueles que faltam com o respeito à dignidade de um ser humano . Já aguentamos demais . O mundo mudou . Nossas filhas não precisam , e não podem mais passar por isso . Abuso é um crime terrível , que pode custar toda a vida afetiva e a autoestima de uma pessoa . Quem viveu é que sabe.

* Cristina Lebre é autora dos livros Olhos de Lince e Marca d’Água à venda nas Livrarias Gutenberg de Icaraí
e São Gonçalo, pelo portal da editora, www.biblioteca24horas.com, ou e-mail lebre.cristina@gmail.com

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