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Letras | Cristina Lebre | Edição 176

'Ainda somos os mesmos e vivemos...'

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"..como nossos pais.” Belchior tinha razão. Vejam como nos tornamos cada vez mais parecidos com eles a cada vinte anos.

Bruninho apareceu na festa de aniversário de minha primogênita semana passada, com sua linda namorada. Ele foi colega de infância de Ana, no colégio montessoriano Amanhecer, hoje Ágora, maravilhosa escola. Bem, "Bruninho" está com 1,88 m, formou-se em administração e tem dentes perfeitos. E eu me vi falando igual aos meus pais quando era pequena, "rapaz, eu vi você pequinininho!” E pior que vi, ele era ainda menor do que minha filha, enquanto que hoje ela bate no ombro dele.

É, definitivamente, somos todos iguais. Gerações se sucedem e dizem as mesmas coisas.

Lembro-me de, aos 12 anos e já com 1,70 m, ir para Salvador visitar uns parentes de meu pai que não víamos há tempos. Ai, foi um tal de me adularem com aqueles comentários, no mínimo, enfadonhos, tipo “nossa, como está grande”, “está uma moça”, “te vi na barriga de sua mãe”. Saco! Eu ria aquele sorriso mais amarelo do que recheio de sonho e ficava muda, achando aqueles velhos um bando de malas. Gente, não tem nada melhor pra dizer não?

Hoje, quarenta anos depois, pego-me fazendo EXATAMENTE o mesmo. Minha filha fez trinta e convidou vários amigos que não via há muito tempo, a ocasião pedia, uma data importante. Eu e a coroada só fazíamos nos extasiar a cada amigo que chegava, homens enormes, mulheres lindas, todos umas criancinhas que nos acostumamos a ver nos colégios....mas o quê esse tempo faz conosco?

Trinta anos passam e a gente não percebe? Ou percebe mas faz pouco caso, afinal a luta pela sobrevivência e a educação de nossos filhos nos consomem tanto que nem reparamos nos cabelos brancos que começam a crescer? Verdade é que o tempo é uma faca de dois gumes. Se, por um lado ele nos permite esquecer amores que se foram, mágoas não tão cruciais e até mesmo acidentes sem maiores consequências, por outro dilacera nossa pele, corrói os órgãos, que começam a ratear feito carros antigos, faz a gente frequentar, cada vez mais, a farmácia.

E, conforme ele avança, vamos ficando cada vez mais parecido com os nossos pais.

“São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer”, disse sabiamente Renato Russo. Vamos ficando velhos como eles, chatos como eles e bobos como eles também. De pais viramos avós, e babamos ao ver o bebê de nosso bebê. Parece que ele duplicou, são como clones de nossos filhos que, para nós, nunca deixarão de ser crianças. Ainda não sou avó, mas vou ser e todos os avós dizem o mesmo: “é a melhor coisa do mundo.” Melhor do que filhos, viagens, carros novos, adrenalina solta ao encontrar uma nova paixão. Netos são os presentes mais preciosos que podemos ganhar, e a felicidade que nos faz esquecer desse tal tempo que não tem o menor pudor em continuar passando, e virando as horas, os dias, os anos.

Tais quais os nossos pais é como ficamos a partir dos quarenta, com os filhos adolescentes e tendo que lhes dar os mesmos carões, conselhos, e até castigos. É quando então percebemos o adiantar dos anos, a puberdade dos filhos, seus namorados que vão chegando e se aboletando em nossos sofás, quiçá nos quartos de nossas “crianças”, que persistem em querer se embrenhar nos prazeres antes somente concedidos aos adultos.

A certeira descendência de nossos pais é o que nós somos, principalmente como genitores, diferindo apenas o personagem da moda e as tecnologias disponíveis. Enquanto que, na década de 70 e 80, os “velhos” se escandalizavam com o início precoce de nossa vida sexual, hoje o maior desafio é fazer eles tirarem os olhos e os dedos dos smartphones. “Vai estudar” é imperativo igualmente adotado há “trocentas” gerações. “Não tenho dinheiro agora” continua sendo muito utilizado, apesar de hoje existirem os cartões de débito e crédito para as crianças gastarem à vontade. E “no meu tempo não era assim” é tão dejá vu que a resposta adolescente é sempre um muxoxo, por vezes capaz de refletir, nessas carinhas de porcelana chinesa, até um pouco de feiúra, que dura não mais do que um minuto.

Doce e afiado tempo. Que nos transmuta de filhos em pais, de netos em avós, de tios em tios avós. Até nos converter em bisavós e depois nos reduzir a lembranças, histórias, memórias. As coisas velhas ficam para trás. Tudo se faz novo. Mas as palavras, as ordens, os discursos, esses jamais mudarão. O ciclo da vida não passa de reprise, e reprise da reprise. Até o fim dos tempos.


 
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